terça-feira, 5 de abril de 2011

O QUE É CIÊNCIA? “Discussion Paper”


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA E GESTÃO DO CONHECIMENTO
DISCIPLINA: MÉTODOS DE PESQUISA EM EGC (EGC5006)


O QUE É CIÊNCIA?
Discussion Paper

Viviane Schneider - Mestrado

Introdução
Este paper explora os diversos conceitos referentes a natureza da ciência, com o intuito de apresentar uma convergência entre os autores que limitam este objeto. Esta discussão é fundamentada em estudos específicos apresentados pelo programa Engenharia e Gestão do Conhecimento – EGC, na disciplina de Métodos de Pesquisa em EGC, contendo textos dos autores Morgan (1980), Triviños (1992, p. 15 à 27),  e Hughes (1980, p.11 à 24), além dos materiais de apoio.
Através de uma descrição interpretativa dos textos supracitados, o paper tem a pretensão de constituir uma elucidação necessária para o alcance da resposta à pergunta: o que é ciência?

Desenvolvimento
Para Triviños (1992), a ciência é norteada pela disciplina, e tem o objetivo de explicar noções de realidade através de uma fundamentação de bases anteriormente reconhecidas e tidas como verdades, sendo estas constituídas por fenômenos e objetos. Conforme o autor, a construção de conceitos científicos é de natureza material e espiritual, pautada nos objetos inseridos em um mundo que está em constante transformação, o que reflete em uma indeterminada reformulação de sua representação científica.
O artigo de Morgan (1980), Paradigms, Metaphors ande Puzzle Solving in Organization Theory, aponta para uma grande contribuição do entendimento de conceito da ciência desenvolvida nas organizações. Com uma perspectiva que busca derruir convenções sobre a teoria organizacional, o artigo acaba por contribuir para a formulação de considerações importantes para o desenvolvimento de ciência nas corporações. Com um modelo de criação de ciência organizacional, autor apresenta, com bases epistemológicas e ontológicas, que a ciência possui quatro principais paradigmas para explicar realidades alternativas. Os paradigmas propostos são divididos pela sua natureza dentro da ciência em: Sociologia da Mudança Radical (radical estruturalista, radical-humanista) e Sociologia de regulação (funcionalista, interpretativo) e quanto a sua natureza da sociedade em: Objetivos (radical estruturalista, funcionalista) e Subjetivos (radical-humanista, interpretativo).
Já em Hughes (1980), as ciências naturais não podem formular generalizações sem considerar todas as ciências sociais existentes (política, antropologia, psicologia, história, sociologia), pois estas influenciam nossa percepção do desenvolvimento científico. O autor salienta a forte relação de ciências sociais com a filosofia, devido a aspectos históricos, lógicos e conceituais, que parte do pressuposto que a filosofia pode explicar algo quando a ciência social já não possui mais condições de elucidar. Ele ainda propõe que a construção de algo com valor científico se embasa no debate filosófico da epistemologia e ontologia, para considerar os fatos do objeto pesquisado, sendo que a autoridade intelectual do conhecimento pode ser um fator de influência na pesquisa.
Devido a complexidade do tema e para posicionar mais precisamente o conceito de ciência, buscou-se apresentar três tópicos que dissecam o tema e convergem as conceitualizações dos atores sobre o que é ciência. São eles: objetivos da ciência, normas da ciência, conhecimento e ciência. Os tópicos são formulados a partir da interpretação das idéias e teorias dos autores, que unidas constroem uma concepção geral sobre o que é ciência.
Com base nos autores foram identificados como objetivos da ciência:
·         O objetivo da ciência é desenvolver continuamente concepções do mundo de forma a lhe atribuir significado. Assim o homem formula sua própria fantasia que o “conecta” a uma realidade, criada a partir de ferramentas interpretativas epistemologicamente imperfeitas, mas que presenteia o homem com um conhecimento sobre o mundo, ainda que este seja parcial (Morgan, 1980).
·             Tendo como base teorias filosóficas, a ciência tem o objetivo de tornar possível o entendimento ontológico e epistemológico dos objetos e acontecimentos do mundo (Hugles, 1980).
·             A ciência objetiva qualificar o trabalho Filosófico, além de permitir a descrição do mundo através de uma disciplina intelectual que admite conhecer uma verdade próxima da realidade (Triviños, 1992).
            Os objetivos que norteiam a ciência partem de um fundamento filosófico, que nos deixa mais próximos de interpretar, ainda que não de forma total, os fenômenos e objetos do mundo e a sociedade em que estamos inseridos.
              A partir dos textos estudados foram verificadas algumas normas intrínsecas da ciência. Afirmações sobre a natureza dos fenômenos têm implicações sobre o modo pelo qual os estes podem ser conhecidos. O científico é satisfeito com procedimentos rigorosos, que estabelecem métodos de comprovação, entre eles questões ontológicas e epistemológicas, que exigem debates filosóficos gerais sobre pressuposições de conhecimento (Morgan, 1980; Triviños, 1992; Hughes, 1980).
              O conhecimento é o principal produto da ciência, desde que devidamente justificado, tanto em sua estrutura de construção quanto em seu conteúdo. O conhecimento, enquanto autoridade científica, deverá ficar acima de “boas razões” (Hughes, 1980), ou seja, o ele deve ir além da abordagem empírica e valorizar a ligação das metáforas que constroem o a pesquisa científica social (Morgan, 1980; Triviños, 1992).
              Ciência trata de métodos e sistemas elaborados para conceber algo filosoficamente constituído, o conhecimento sobre algo. Ciência é a planta baixa que nos permite representar e visualizar o edifício feito de conhecimento. A ciência é uma tentativa de nos situar enquanto conhecedores e desbravadores neste mar de coisas que é o universo.


Conclusão
              Nos textos os autores expõem a forte conexão de realidade, conhecimento e método, para obtenção de algo que possa ser reconhecido como ciência, convergindo para apresentar sua sistematização do conhecimento de um objeto de pesquisa. Ciência tem sua origem na filosofia e por vezes retorna a ela para se reinventar. Para melhor compreensão foi realizada uma divisão do tema ciência em três tópicos (objetivo da ciência, normas da ciência, conhecimento e ciência). Assim foi possível desenhar uma efetiva conceitualização e reconhecimento de suas características sob a ótica interpretativa dos autores.  
              A definição de ciência colocou o objetivo de pesquisa em uma posição “auto reflexiva” pois, para entender o que é ciência, temos que antes utilizar seu próprio método para conhecer sua verdade.

Documentação
HUGHES, John. A filosofia da Pesquisa Social. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1980. TREVISAN, Nanci Mazieiro. Positivismo&Pós-Positivismo. In: Revista Acadêmica do Grupo Comunicacional de São Bernardo, Ano 3, nº 5. Janeiro/Junho. São Bernardo, 2006. Disponível em: www.metodista.br/unesco/GCSB/index.htm. Acesso em: 20/03/2010. 
TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo : Atlas, 1992.
MORGAN, G. Paradigms, metaphors, and puzzle solving in organization theory. Administrative Science Quarterly, v. 25, n. 4, p. 605-622, 1980

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